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As botas de búfalo
Grimm Märchen

As botas de búfalo - Contos de fadas dos Irmãos Grimm

Tempo de leitura para crianças: 12 min

Um soldado que não tem medo de nada, nunca se preocupa com nada. Um indivíduo desses foi dispensado e, como não tinha aprendido a fazer nada, não conseguia ganhar coisa alguma, e ia perambulando de cá para lá e pedindo à boa gente a caridade de uma esmola. O soldado usava um velho capote e conservava ainda as botas de couro de búfalo que recebera no exército. Certo dia, andava ele através dos campos, sem rumo definido, e foi andando, andando, até que chegou a uma floresta. O lugar era-lhe completamente desconhecido, mas não se importava com isso; eis que, sentado no tronco de uma árvore caída, viu um homem muito elegante, trajando um fato verde de caçador. Aproximou-se-lhe, estendeu-lhe a mão, sentou-se junto dele e espichou as pernas. Depois, disse ao desconhecido:

– Noto que usas botas finas e polidas! Mas se tivesses de andar de cá e de lá, como eu, certamente não resistiriam muito. Olha para as minhas: são de couro de búfalo e já prestaram bons serviços, contudo ainda pisam bons e maus caminhos! Depois de ter descansado um pouco, o soldado levantou-se e acrescentou:

– Não posso demorar-me, a fome me obriga a andar. Sabes porventura aonde vai dar este caminho, Senhor Botalustra? – Não sei, não, – respondeu o caçador; – eu mesmo estou extraviado aqui nesta floresta. – Então estamos nas mesmas condições, – retrucou o soldado; – Deus faz o homem e depois o junta; sendo assim, fiquemos juntos e vamos procurar o nosso caminho. O caçador sorriu, imperceptivelmente, e juntos prosseguiram o caminho. Andaram sem parar até cair a noite. – E não saímos da floresta, – disse o soldado; – mas estou vendo uma luz brilhando lá ao longe; quem sabe se encontraremos algo para comer! Dirigiram-se para o local onde brilhava a luz e deram com uma casa de pedra; bateram à porta e uma velha apareceu no limiar. – Estamos procurando abrigo para esta noite, – disse-lhe o soldado, – e um pouco de lastro para o bojo do estômago, porquanto o meu está tão vazio como um saco. – Aqui é impossível abrigar-vos, – respondeu a velha; – esta casa pertence a um grupo de bandidos; o melhor que tendes a fazer, é tratar de sumir quanto antes, pois se eles vierem e vos encontrarem aqui, estais perdidos. – Certamente não são o diabo em pessoa! – retorquiu o soldado; – há dois dias que não como nada e tanto me faz morrer aqui como arrebentar de fome na floresta. Vou entrar, não tenho medo. O caçador, porém, hesitava e não queria segui-lo, mas o soldado puxou-o pela manga do casaco e arrastou-o para dentro da casa, dizendo:

– Vem, coraçãozinho, tens medo acaso que nos liquidem tão já? A velha compadeceu-se deles e disse:

– Escondei-vos atrás do fogão; se sobrar alguma coisa do jantar deles, logo que se forem deitar, eu vô-la trarei aqui. Mas, apenas acabavam de esconder-se no cantinho indicado, os doze bandidos irromperam pela casa dentro e, fazendo uma algazarra infernal, sentaram-se à mesa e pediram o jantar. A velha serviu-lhes um enorme assado, que os bandidos devoraram sofregamente. O delicioso aroma da comida chegou ao nariz do soldado, que não se pôde conter e exclamou:

– Não aguento mais; vou sentar-me lá com eles e encher o estômago. – Estás louco? – sussurrou o caçador; – queres que te matem? – e tentou segurá-lo pelo braço. Mas o soldado teve um acesso de tosse e os bandidos ouviram; então, largando facas e garfos, pularam e descobriram os dois refugiados atrás do fogão. – Ah, senhores, – exclamou um deles: – estais aí no cantinho? Que vindes fazer nesta casa? Alguém vos mandou espionar o que fazemos? Pois bem, já aprendereis como se voa na ponta de um galho seco! – Bem, bem; tenham modos! – disse o soldado; – estou morto de fome; dai-me antes de mais nada um pouco de comida, depois fazei de mim o que vos aprouver. Os bandidos estacaram surpresos, ante tamanha calma, e então o chefe do bando disse:

– Pelo que vejo, não tens medo! Pois bem, terás a comida que quiseres, mas em seguida, não escaparás da morte. – Veremos! – disse o soldado. Sentou-se à mesa e atacou valentemente o assado. – Ó compadre Botalustra, vem comer! – gritou ele ao caçador. – Certamente estás com tanta fome como eu e em casa duvido que encontres um assado tão bom como este! O caçador, porém, não aceitou o convite. Os bandidos, estupefatos, olhavam para o soldado e diziam entre si:

– Esse tipo não faz cerimônias! Daí a pouco, o soldado disse-lhes:

– A comida me agradou muito; deem-me agora um copinho do bom! O chefe do bando, que excepcionalmente estava de bom humor, gritou à velha:

– Vai à adega buscar uma garrafa, e do melhor! O soldado fez saltar a rolha bem alto, chegou para o caçador ostentando a garrafa e lhe disse:

– Agora fica bem atento, amigo, pois vais ver maravilhas. Antes de tudo vou fazer um brinde à toda a companhia. Empunhou a garrafa e, brandindo-a à altura das cabeças dos bandidos, disse-lhes:

– A vossa saúde! Laventai o braço direito para o alto e abri bem a boca! – e sorveu um largo trago. Tendo pronunciado aquelas palavras, os bandidos quedaram-se todos imóveis, com o braço direito estendido para o ar e a boca aberta; então o caçador disse ao soldado:

– Vejo que és entendido em mágicas; mas agora, vem daí, vamos para casa. – Oh, meu coração, seria levantar o cerco muito depressa; batemos o inimigo, agora cuidemos do saque. Ei-los todos grudados nos seus lugares como que petrificados, de boca aberta e braço erguido e não se poderão mexer enquanto eu não o permitir. Vem, coração, come e bebe à vontade! A velha teve de trazer mais uma garrafa de vinho e o soldado não saiu da mesa senão após ter comido o suficiente para três dias. Finalmente, ao despontar do sol, disse:

– Está na hora de levantar acampamento; para encurtar a marcha, a velha tem de nos ensinar qual o caminho mais curto que vai ter à cidade. Assim que chegou à cidade, foi procurar os antigos camaradas e disse-lhes:

– Achei no meio da floresta um ninho de pássaros próprios para a forca; acompanhai-me, vamos desaninhá-los. Assumindo o comando do grupo de soldados, o nosso valentão disse ao caçador:

– Vem conosco, assim poderás ver como se espojam quando os pegarmos pelos pés! Foram todos para a floresta, o soldado postou os seus homens em volta dos bandidos, pegou a garrafa e tomou um bom gole; depois, brandindo-a sobre as cabeças deles, disse:

– A vossa saúde! No mesmo instante, os bandidos recuperaram os movimentos, mas foram imediatamente derrubados ao chão e, em seguida, amarraram-lhes os pés e as mãos com fortes cordas. Depois o soldado deu ordem para que fossem atirados como sacos dentro do carro. – Levai-os, diretamente, para a cadeia. Nisso o caçador chamou de lado um deles e sussurrou-lhe qualquer coisa. – Compadre Botalustra, – disse-lhe o soldado, – além de surpreender os bandidos todos, na toca, ainda nos abarrotamos de boa comida; agora, formar fila e marchar, tranquilamente, como fazem os retardatários. Quando estavam chegando, o soldado viu uma enorme multidão, um aglomerado de gente que vinha saindo pela porta da cidade. Bradavam todos cheios de júbilo e agitavam ramos verdes. E viu que a guarda nacional, em perfeita formação, também se aproximava. – Que significa isto tudo? – perguntou ele muito admirado ao caçador. – Ignoras certamente, – respondeu este, – que o rei há muito se achava fora do reino. Hoje ele está voltando para o seu povo, por isso todos lhe vão ao encontro jubilosos! – Mas, onde está o rei? – perguntou o soldado, – não o estou vendo! – Ei-lo aqui; – respondeu o caçador apresentando-se. – O rei sou eu e mandei que anunciassem a minha chegada. Falando assim, abriu a túnica de caçador e mostrou por baixo dela a roupa real. O soldado ficou estarrecido; caiu de joelhos e pediu perdão quase chorando, pois na sua ignorância o havia tratado como a um igual e, ainda por cima, lhe havia aplicado aquele apelido de Botalustra! O rei, sorrindo, estendeu-lhe a mão e disse:

– Tu és um bravo soldado e me salvaste a vida. Daqui por diante, não passarás mais necessidades, eu cuidarei de ti. E se alguma vez quiseres comer um bom assado, tão bom como aquele dos bandidos, podes pedi-lo sem cerimônia às cozinhas reais. Mas, se pretendes fazer um brinde igual àquele, passa antes na minha sala e pede-me licença!

Leia outro conto de fadas curto (5 min)

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Antecedentes

Interpretações

Língua

O conto „As Botas de Búfalo“ dos Irmãos Grimm segue a estrutura clássica de um conto de fadas, misturando elementos de fantasia, aventura e moralidade. Aqui estão alguns pontos principais e antecedentes que ajudam a compor essa narrativa:

Personagem Principal (Soldado): O protagonista é um ex-soldado sem rumo, destemido e de bom coração, características típicas dos heróis em contos de fadas. Ele enverga um capote velho e botas de couro de búfalo, simbolizando seu passado militar e resistência.

Encontro com o Estranho: Como é comum em contos de fadas, o herói encontra um personagem misterioso, o caçador, que mais tarde se revela ser alguém importante ou mágico, neste caso, o próprio rei disfarçado.

Desafio e Prova de Coragem: O soldado revela seu destemor ao entrar na casa dos bandidos, apesar dos avisos da velha. Sua coragem e atitude desafiadora são recompensadas quando ele consegue, através de sua bravura e alguma sorte, se fartar com a comida dos bandidos mesmo diante da ameaça de morte.

Elemento Mágico: O soldado, inadvertidamente, utiliza um truque mágico ao brindar „à saúde“ dos bandidos, paralisando-os no tempo. Este é um elemento fantástico que ajuda a reverter a situação a seu favor.

Revelação e Moral: O caçador revela sua verdadeira identidade como rei, trazendo uma reviravolta ao conto. O soldado, que tratou o rei como um igual, é perdoado e recompensado por sua bravura e honestidade. O rei mostra generosidade, típica dos finais de contos de fadas, ao garantir que o soldado nunca mais passará dificuldades.

Existem várias lições no conto: a importância da coragem e da honra, a ideia de que as aparências podem enganar (o rei disfarçado), e uma crítica social à desigualdade e à relação entre diferentes classes sociais.

O conto encapsula temas de aventura e recompensa moral, promovendo valores como bravura e lealdade, e sublinhando a ideia de que os verdadeiros nobres são reconhecidos pela coragem interior e não apenas por status ou aparência.

„As Botas de Búfalo“ é uma história dos Irmãos Grimm que segue um padrão tradicional de contos de fadas, mas permite interpretações variadas sobre temas como coragem, astúcia e identidade.

Coragem e Superação de Obstáculos: O protagonista, o soldado, exemplifica coragem e determinação ao enfrentar situações difíceis sem medo, mesmo quando confrontado por bandidos. Ele não se deixa abater pelas adversidades, demonstrando a importância de enfrentar desafios com bravura.

Aparências Enganam: A figura do caçador, mais tarde revelada como o rei disfarçado, subverte as expectativas. Isso reforça a ideia de que as aparências podem ser enganosas e que o valor real das pessoas frequentemente reside além do que é visível.

Sorte e Astúcia: A história sugere que a sorte favorece os valentes e engenhosos. O soldado, mesmo em situações extremas, utiliza sua perspicácia e habilidade de comunicação para transformar uma circunstância desfavorável em uma oportunidade, convencendo os bandidos a alimentá-lo e, eventualmente, capturando-os.

Hierarquia e Igualdade: A interação entre o soldado e o rei destaca uma troca interessante de papéis. Embora o soldado trate o rei como igual sem conhecer sua verdadeira identidade, esta familiaridade acaba criando um laço de respeito e admiração entre eles. Isso pode ser interpretado como uma crítica à estratificação social e um lembrete do valor intrínseco de cada indivíduo.

Companheirismo e Lealdade: A relação entre o soldado e o caçador, que culmina na revelação da identidade do rei, demonstra a importância do companheirismo e da confiança mútua. O soldado insistiu em ter o caçador ao seu lado, mostrando que enfrentar desafios com um aliado pode ser mais recompensador.

Essas interpretações enriquecem a narrativa clássica dos Irmãos Grimm, oferecendo lições universais que ressoam com leitores de diferentes gerações.

O conto „As botas de búfalo“ dos Irmãos Grimm apresenta-nos uma narrativa rica em simbolismo e elementos característicos dos contos de fadas. Vamos explorar algumas das camadas linguísticas e temáticas desse intrigante texto.

Diálogo Direto: O conto utiliza bastante diálogo direto, delimitado por travessões, que serve para dar voz às personagens e dinamizar a narrativa. Isso aproxima o leitor dos eventos, tornando-os mais vívidos.

Estilo Oral: A linguagem empregada é simples e direta, típica da tradição oral dos contos de fadas, o que facilita a assimilação por parte de diversos públicos, desde crianças até adultos.

Aventura e Superação: A história gira em torno do soldado destemido que enfrenta desafios sem hesitar. Sua coragem e atitude positiva são os traços que o diferenciam e lhe garantem sucesso ao final da narrativa.

Prova e Recompensa: A clássica estrutura de prova e recompensa é central. O protagonista enfrenta situações de perigo e necessidade, mas sua bravura e integridade são recompensadas no fim quando a sua verdadeira identidade (ou virtude) é reconhecida pelo rei disfarçado.

Identidade Oculta: O tema da identidade oculta, presente na figura do caçador que na verdade é um rei disfarçado, acrescenta uma camada de mistério e surpresa à narrativa. Revelações desse tipo são comuns em contos de fadas e estimulam o fascínio dos leitores pela descoberta de uma verdade escondida.

Botas de Búfalo: As botas robustas de couro de búfalo do soldado simbolizam resistência e capacidade de enfrentar qualquer caminho, sejam eles bons ou maus. Trata-se de um emblema da perseverança e resiliência.

Comida e Vinho: Os atos de comer e beber junto aos bandidos servem como símbolo de comunhão e sobrevivência, mas também de uma confiança e audácia que desarma os vilões. Além disso, ilustram uma certa crítica social à desigualdade – a fome do soldado frente à abundância dos bandidos.

Transformação dos Bandidos: A paralisação dos bandidos com um brinde mágico subverte a ameaça que eles representam, transformando um momento de perigo em um triunfo para o herói. Essa transformação é um lembrete da possibilidade da mudança e do poder do mais astuto sobre o mais forte.

A narrativa reflete sobre a importância da coragem, lealdade e capacidade de enxergar além das aparências. Como nos contos clássicos, há uma recompensa para quem demonstra virtudes essenciais, mesmo que a sua situação inicial seja de desvantagem. O conto também sugere que aqueles que possuem valores verdadeiros acabam reconhecidos e recompensados, independentemente das aparências ou circunstâncias iniciais.

As histórias dos Irmãos Grimm, incluindo „As botas de búfalo“, desempenham um papel crucial na transmissão de valores culturais, sociais e morais através das gerações, utilizando uma linguagem acessível, personagens arquetípicos e narrativas que ressoam universalmente.


Informação para análise científica

Indicador
Valor
NúmeroKHM 199
Aarne-Thompson-Uther ÍndiceATU Typ 952
TraduçõesDE, EN, ES, FR, PT, IT, JA, NL, PL, RU, TR, VI, ZH
Índice de legibilidade de acordo com Björnsson35.6
Flesch-Reading-Ease Índice32.2
Flesch–Kincaid Grade-Level12
Gunning Fog Índice15.5
Coleman–Liau Índice10.4
SMOG Índice12
Índice de legibilidade automatizado6.6
Número de Caracteres8.217
Número de Letras6.370
Número de Sentenças102
Número de Palavras1.429
Média de Palavras por frase14,01
Palavras com mais de 6 letras308
percentagem de palavras longas21.6%
Número de Sílabas2.710
Média de Sílabas por palavra1,90
Palavras com três sílabas359
Percentagem de palavras com três sílabas25.1%
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