Tempo de leitura para crianças: 6 min
Uma moça, bonita e prendada, não encontrava casamento, embora muito merecesse um bom estado. Ia sempre à missa das almas, pela madrugada, e rezava seu rosário para elas. Perto da casa da moça morava um homem rico e solteiro que dizia só casar-se com a melhor fiandeira da cidade. A moça sabendo essa notícia, ia comprar linho à casa do rico, dizendo fiá-lo todo num só dia. O homem ficava pasmado, vendo uma moça tão trabalhadora.
Não dando inteiro crédito ao que ouvia, uma manhã, em que a moça apareceu para mercar um pouco de linho, disse-lhe em tom de brincadeira: moça, se esse linho é fiado num dia, sem entrar pelo serão, leve-o sem pagar e irei ao anoitecer ver sua tarefa.
A moça voltou para casa muito aflita com a promessa porque não podia fiar o linho num dia, nem a metade da porção que trouxera. Pôs o linho nas rocas e começou a chorar, a chorar sem consolo. Quando, estava assim, ouviu uma voz trêmula dizendo:
– Por que chora a minha filha?
Levantou a cabeça e viu uma velha, muito velha, vestida de branco e muito pálida. Contou o que lhe sucedia e a velha disse: vá rezar seu rosário que eu vou ajudá-la um pouco.
A moça foi rezar e quando acabou todo o linho estava fiado e pronto. A velha disse: Se você casar eu virei às bodas e não se esqueça de chamar-me minha tia por três vezes.
A moça prometeu. Quando o mercador chegou e viu o linho fiado, ficou assombrado. Gabou muito a moça e no outro dia mandou, ainda uma porção maior de linho, dizendo que voltaria para ver o resultado. A moça pôs-se a chorar sem parar.
Outra velha apareceu, parecida com a primeira, e fiou o linho num amém, enquanto a moça rezava. e ao despedir-se fez o mesmo pedido que a primeira velha fizera.
Ainda uma vez o mercador visitou a moça e não teve palavras para elogiar o quanto ela fizera num dia. Mandou, de presente, ainda mais linho e o mesmo pedido. A moça voltou a lamentar-se e uma terceira velha apareceu e tudo se passou como de costume, linho fiado e promessa feita,
O mercador veio visitar a moça e pediu-a em casamento, marcando-se o dia. Como um dos pre sentes de noivado, recebeu a noiva muito linho para fiar, e rocas, fusos, dobadouras e mais apetrechos. A moça estava desesperada com; o seu futuro.
Quando acabou de casar, surgiram na porta as três velhas juntas. A moça, lembrada do que prometera, recebeu-as muito bem, tratando-as por tias, oferecendo comida, bebida, assento, e fazendo toda a sorte de agrados e oferecimentos. O noivo não tinha cobro do espanto qué lhe causava a feição de cada uma das velhas. Não se contendo, perguntou:
– Por que as senhoras são assim, corcovadas, alhos esbugalhados e queixos para fora? Foi alguma doença?
– Não foi, senhor sobrinho – responderam as velhas – foi o fiar que nos deu essas pechas. Fiámos anos e anos e ficámos assim, corcovadas pela posição, olhos esbugalhados de acompanhar o riço, queixos feios péla tarefa com os tomentos.
O noivo não quis mais saber de rocas, fusos e dobadouras. Agarrou tudo e atirou pana o meio da rua, dizendo que jamais sua mulher havia de pegar num instrumento que a faria tão feia.
Viveram muito felizes. As três velhas eram as „alminhas,“ agradecidas pela devoção da moça.

Antecedentes
Interpretações
Língua
„As Três Fiandeiras“ é um conto clássico que carrega as características típicas dos contos de fadas dos Irmãos Grimm, marcado por elementos mágicos, lições morais e uma estrutura narrativa que envolve a superação de desafios com a ajuda de figuras sobrenaturais.
A história gira em torno de uma jovem talentosa e devota, que não consegue encontrar um bom casamento, apesar de suas virtudes. Ao mesmo tempo, um rico solteiro na cidade deseja se casar somente com a melhor fiandeira. Para impressioná-lo, a jovem aceita o desafio de fiar grandes quantidades de linho em um único dia.
O conto apresenta um elemento mágico com a aparição de três velhas misteriosas, que ajudam a jovem em troca de um simples pedido: que sejam chamadas de tias durante seu casamento. Cada vez que a moça enfrenta o desafio de fiar o linho, uma dessas alminhas, ou almas, aparece para ajudá-la a completar a tarefa com sucesso, após a jovem rezar seu rosário.
No casamento, as três velhas aparecem e são tratadas com respeito pela jovem, como havia sido prometido. O noivo, curioso sobre suas aparências peculiares, é informado que suas deformidades são o resultado de anos fiando linho. Temendo que sua esposa se tornasse semelhante, ele proíbe qualquer trabalho de fiar no futuro, garantindo assim a felicidade duradoura do casal.
A história enfatiza a gratidão e a devoção como valores fundamentais que podem atrair ajuda e resultar em finais felizes. Além disso, destaca a importância de respeitar tradições e promessas, enquanto propõe uma crítica sutil às expectativas sociais e às aparências físicas. As „alminhas“ simbolizam a recompensa espiritual da jovem por sua devoção, e sua intervenção representa uma inversão bem-humorada de papéis tradicionais, onde os desafios são superados de formas não convencionais.
„As Três Fiandeiras“ é um conto de fadas coletado pelos Irmãos Grimm, que explora temas comuns em histórias folclóricas, como o trabalho duro, a astúcia, e o reconhecimento de virtudes menos óbvias. Aqui, o conto gira em torno de uma jovem que, embora não conseguisse encontrar um marido, dedicava-se à sua fé e obras de devoção, como rezar o rosário para as almas.
A trama começa a se desenrolar quando a jovem, conhecida por suas devoções religiosas, se depara com um dilema envolvendo uma quantidade de linho que deve fiar em um único dia para conquistar a atenção de um homem rico que só quer se casar com a melhor fiandeira da cidade. Desesperada, a jovem chora até que três velhas misteriosas, que se revelam ser as almas para quem ela rezava, oferecem-se para ajudá-la.
Cada velha é descrita de maneira peculiar, com características físicas que indicam deformidades resultantes de uma vida inteira dedicadas à fiação. Em troca de sua ajuda, cada uma pede que a jovem as reconheça publicamente como suas tias no dia do casamento.
Quando o noivo, impressionado com a habilidade aparentemente sobrenatural da jovem, finalmente pede a sua mão em casamento, o compromisso é marcado por um evento revelador. Durante as bodas, o noivo questiona as velhas sobre suas aparências, ao que elas respondem que suas deformidades foram causadas pela fiação incessante. Assustado com a perspectiva de sua jovem esposa sofrer o mesmo destino, o noivo decide que ela nunca mais deve fiar, assegurando assim que ela não será submetida aos mesmos riscos.
Ao final, o conto não só apresenta uma jovem que supera suas dificuldades através da ajuda sobrenatural e da astúcia, mas também satiriza o papel tradicional da mulher como dona de casa e fiandeira ao transformar essa habilidade potencialmente perigosa em algo desnecessário, tudo enquanto recompensa as bondosas velhas almas por seu auxílio. Essa história reflete a noção de recompensas imprevistas e o valor da gratidão e gentileza em face das dificuldades.
O conto de fadas „As Três Fiandeiras“ dos Irmãos Grimm possui uma narrativa rica em simbolismo e motivações culturais que merecem uma análise aprofundada. A história explora temas de devoção, trabalho, beleza e astúcia feminina, bem como as dinâmicas entre esforço e recompensa.
Introdução e Situação Inicial: Na introdução, conhecemos a protagonista – uma moça bonita e habilidosa que não consegue encontrar um pretendente adequado, apesar dos seus atributos e virtudes. O contexto é estabelecido com a informação de que ela é devota, frequentemente participando das missas e rezando. O cenário é completado com a presença do mercador rico, cuja busca por uma esposa fiandeira desencadeia os eventos do conto.
Complicação: A complicação surge quando a moça promete fiar uma quantidade de linho em um só dia para o mercador. Ciente de que a tarefa é impossível para ela, entra em desespero, o que leva à intervenção providencial das três velhas misteriosas.
Intervenção Mágica: A intervenção das três velhas é um elemento clássico do conto de fadas. Elas representam ajudantes mágicas ou sobrenaturais que, em troca de pequenos favores e promessas, realizam façanhas impossíveis para os protagonistas. Essas entidades intervêm em pontos críticos, salvando a moça da sua aflição.
Clímax: O clímax ocorre quando as três velhas aparecem no casamento e a moça cumpre sua promessa de tratá-las como tias. O noivo, ao ver as consequências físicas do oficio nas velhas, decide que sua esposa nunca deveria fiar novamente.
Desfecho: A resolução é feliz – o noivo elimina todas as ferramentas de fiação, garantindo que sua esposa permaneça bela e livre de tamanha tarefa. A felicidade conjugal e a revelação das velhas como almas gratas conferem um desfecho positivo à protagonista.
Devoção e Recompensa Sobrenatural: A devoção da moça às almas é um elemento que determina o suporte sobrenatural que ela recebe. Esse tema de ações altruístas resultando em recompensas mágicas é comum nos contos de fadas.
Labor Feminino e Consequências Físicas: As velhas simbolizam as consequências físicas das demandas excessivas do trabalho feminino, uma crítica implícita à sociedade que valoriza a habilidade têxtil feminina sem considerar seu impacto.
Astúcia e Cumprimento de Promessas: A esperteza da moça em cumprir suas promessas às velhas sem violar sua própria verdade contribui para alcançar um final feliz, ressaltando a importância de cumprir acordos e ser grata às ajudas recebidas.
Fiandeiras: A fiação é um tema recorrente em contos de fadas, simbolizando a vida e o destino, mas também remetendo ao papel tradicional das mulheres na sociedade.
As Velhas: Com sua aparência peculiar, as velhas também representam o arquétipo das “fadas madrinhas” ou figuras mágicas benévolas que ajudam os merecedores.
Noivo Mercador: Representa a figura masculina pragmática que, impressionada pelas aparências e habilidades materiais, muda de perspectiva ao confrontar a verdadeira natureza do trabalho.
„As Três Fiandeiras“ oferece uma crítica sutil e perspicaz às expectativas da sociedade quanto ao trabalho feminino e valoriza a astúcia e a devoção como virtudes essenciais. As intervenções sobrenaturais reforçam a moralidade típica dos contos de fadas, onde bondade e inteligência são recompensadas, e as promessas feitas – e cumpridas – desempenham um papel crucial na obtenção do sucesso.
Informação para análise científica
Indicador | Valor |
---|---|
Número | KHM 14 |
Aarne-Thompson-Uther Índice | ATU Typ 501 |
Traduções | DE, EN, DA, ES, FR, PT, FI, HU, IT, JA, NL, PL, RO, RU, TR, VI, ZH |
Índice de legibilidade de acordo com Björnsson | 32 |
Flesch-Reading-Ease Índice | 30.2 |
Flesch–Kincaid Grade-Level | 12 |
Gunning Fog Índice | 15.7 |
Coleman–Liau Índice | 9.3 |
SMOG Índice | 12 |
Índice de legibilidade automatizado | 6.3 |
Número de Caracteres | 3.192 |
Número de Letras | 2.486 |
Número de Sentenças | 38 |
Número de Palavras | 583 |
Média de Palavras por frase | 15,34 |
Palavras com mais de 6 letras | 97 |
percentagem de palavras longas | 16.6% |
Número de Sílabas | 1.110 |
Média de Sílabas por palavra | 1,90 |
Palavras com três sílabas | 139 |
Percentagem de palavras com três sílabas | 23.8% |