Tempo de leitura para crianças: 10 min
Atenção: Esta é uma história assustadora.
Houve, uma vez, um moleiro que tinha uma filha, muito bonita; quando ela atingiu a idade de casar, o pai decidiu arranjar-lhe um bom casamento, e pensava: „Se aparecer um pretendente em condição e a pedir em casamento, dou-lha.“
Não demorou muito, apareceu um pretendente, que demonstrava ser muito rico, e o moleiro, não achando inconveniente algum, prometeu dar-lhe a filha. A moça, porém, não o amava como deve ser amado um noivo, e não tinha nem um pouco de confiança nele. Cada vez que o via ou que pensava nele, sentia-se dominada por inexplicável repulsa. Um dia, disse o noivo:
– És minha noiva e nunca me visitas! Não sei onde é a vossa casa, – respondeu a moça.
– A minha casa, – disse ele, – fica bem no âmago da floresta. Ela pretextou que não conseguiria encontrar o caminho para ir lá, mas ele insistiu:
Eu já convidei as outras visitas, para que possas te orientar, espalharei cinza no caminho da floresta. No domingo, quando a moça estava pronta para sair, sentiu grande medo, sem saber por que e, para marcar bem o caminho, encheu os bolsos com lentilhas e ervilhas. Logo na entrada da floresta, viu a cinza espalhada; foi seguindo por ela, mas a cada passo ia deixando cair, de cada lado do caminho, um grão de ervilha e de lentilha. Andou quase o dia inteiro, até que, por fim, chegou ao âmago da floresta; aí estava uma casa solitária, que nada lhe agradou, pois lhe parecia tenebrosa e inquietante.

Entrou; não havia ninguém lá dentro e reinava o mais profundo silêncio. De repente, uma voz gritou:
Foge, foge. bela noivinha,
de salteadores é esta casinha.
A moça ergueu os olhos e viu que a voz partia de um pássaro preso numa gaiola dependurada na parede. Ele gritou novamente:
Foge, foge. bela noivinha,
de salteadores é esta casinha.
A noiva, então foi de um quarto para outro, percorrendo toda a casa, sem encontrar alma viva. Finalmente, chegou à adega. Viu lá sentada uma velha decrépita, cuja cabeça tremia. – Podeis dizer-me se mora aqui meu noivo? – perguntou a moça. – Ah, pobre menina! – respondeu a velha, – onde vieste cair! Num covil de salteadores. Tu te julgas uma noiva em vésperas de casamento, mas tuas núpcias serão com a morte. Vê? Preparei no fogo um grande caldeirão com água; se cais nas mãos deles, serás picada impiedosamente em pedaços, depois cozida e devorada, pois eles são canibais. Se eu não me apiedar de ti, estarás perdida. A velha, então, ocultou-a atrás de um tonel, onde não seria vista. – Fica aí quietinha, como um ratinho, não te mexas e não dês sinal de vida; se não estás perdida! Esta noite, quando os salteadores estiverem dormindo, fugiremos as duas; há tanto tempo que venho aguardando a oportunidade! Mal acabara de falar, chegou o bando de salteadores; vinham arrastando junto uma outra jovem; bêbados como estavam, não se impressionavam com seus gritos e lamentos. Obrigaram-na a beber três copos cheios de vinho, um branco, um vermelho e um amarelo; com isso, partiu-se-lhe o coração. Arrancaram-lhe as belas roupas, deitaram-na sobre a mesa, cortaram em pedaços seu lindo corpo e o salgaram. A pobre noiva, atrás do tonel, tremia como vara verde; via com os próprios olhos o destino que lhe reservavam os bandidos. Um deles, vendo brilhar um anel no dedinho da morta, tentou arrancá-lo; não o conseguindo tão facilmente, pegou no machado e decepou o dedo que, dando um pulo no ar, foi cair atrás do tonel, bem no colo da noiva. O bandido pegou num candeiro e pôs-se a procurá-lo, mas inutilmente. Então um outro disse-lhe:
– Já procuraste atrás do tonel? Mas a velha gritou:
– Venham comer, vós o procurareis amanhã; o dedo não foge, não! – A velha tem razão, – disseram eles. Deixaram de procurar e foram sentar-se à mesa para
comer; então a velha pingou um sonífero dentro do vinho; tendo bebido, todos adormeceram e começaram a roncar fortemente. Ouvindo-os roncar, a noiva saiu do esconderijo e teve que pular por sobre os corpos estendidos no chão, com um medo horrível de acordar algum. Mas, com o auxílio de Deus, conseguiu passar. A velha saiu com ela, abriu a porta e ambas fugiram o mais depressa possível do covil dos assassinos. O vento levara a cinza, mas os grãos de ervilha e de lentilha haviam brotado e, como o luar estava bem claro, elas seguiram o caminho indicado. Andaram a noite toda e só chegaram ao moinho pela manhã. A jovem contou ao pai tudo o que acontecera, sem omitir nada. Quando chegou o dia do casamento, o noivo apresentou-se. O moleiro, porém, convidara todos os parentes e amigos. Na mesa, durante o banquete, cada conviva teve de contar uma história. A noiva, sentada ao lado do noivo, nada dizia. Então, o noivo voltou-se para ela. – E tu, meu coração, nada tens a contar? Narra uma história qualquer! – Bem, contarei um sonho que tive, – disse ela. „Ia andando sozinha por uma floresta e fui parar
numa casa, solitária. Dentro não havia ninguém, apenas um pássaro preso numa gaiola dependurada na parede, o qual, vendo-me, gritou:
Foge, foge, bela noivinha,
de salteadores é esta casinha.
Gritou isso duas vezes. – Meu amor, é apenas um sonho! – Percorri os quartos e todos estavam vazios e fúnebres! Finalmente, fui ter à adega e lá estava uma velha decrépita sentada, a cabeça a lhe tremer; perguntei-lhe:
„Mora aqui o meu noivo?“
„Ah! pobre menina, – respondeu-me ela, – caiste num covil de assassinos! Teu noivo mora aqui, mas tu serás assassinada, cortada em pedaços, cozida e devorada. – Meu amor, é apenas um sonho! – A velha ocultou-me atrás de um tonel; mal me escondera, chegaram os bandidos, arrastando consigo uma moça; deram-lhe a beber três copos de vinho, um branco, um vermelho e um amarelo, e, com isso, partiu-se-lhe o coração. – Meu amor, é apenas um sonho! – Depois arrancaram-lhe as belas roupas, deitaram-na sobre a mesa, cortaram em pedaços seu lindo corpo e o salgaram. – Meu amor, é apenas um sonho! – Um dos bandidos viu um anel no dedinho dela e, achando difícil arrancá-lo, decepou o dedo com o machado; mas o dedo, dando um pulo no ar, foi cair atrás do tonel, justamente no meu colo. Ei-lo aqui. Assim dizendo, tirou do bolso o dedinho e mostrou- o a todos os presentes. O bandido, que durante a narrativa ficara branco como um pano lavado, pulou da cadeira e tentou fugir; mas os convidados agarraram-no e o entregaram à justiça. Ele e todo o bando foram condenados e justiçados, pagando assim seus terríveis crimes.

Antecedentes
Interpretações
Língua
„O Noivo Salteador“ é um conto dos Irmãos Grimm que ilustra temas de desconfiança, coragem e justiça. A história gira em torno de uma jovem noiva que é prometida a um homem rico, mas sente uma inexplicável repulsa por ele. Essa desconfiança se revela justificada quando ela descobre que ele é, na verdade, o líder de um bando de assassinos e canibais. Com a ajuda de uma velha, a noiva escapa do cativeiro e volta para casa, onde expõe os crimes do noivo mostrando um dedo decepado como evidência. O conto termina com a captura do noivo e seu bando, que são entregues à justiça, enfatizando a moral de que o mal eventualmente encontra seu castigo.
Essa narrativa combina elementos macabros e de suspense com um final moralizante que destaca a importância de ouvir seus instintos e a eventual prevalência da justiça. Como muitas histórias dos Irmãos Grimm, „O Noivo Salteador“ utiliza elementos fantásticos e sombrios para ensinar lições sobre a natureza humana e as consequências das ações malignas.
„O Noivo Salteador“ é um dos contos mais sombrios dos Irmãos Grimm, abordando temas de perigo, astúcia e justiça. Esse conto de fadas ilustra uma situação em que o instinto e a prudência da protagonista salvam sua vida.
A história retrata uma jovem prometida em casamento a um homem que não ama e em quem não confia, pressentindo algo sinistro sobre ele. A determinação do noivo em levá-la à sua casa isolada na floresta desperta seu instinto de autopreservação, levando-a a marcar o caminho com grãos, uma atitude que demonstra sua inteligência e precaução.
Ao chegar à casa na floresta, a protagonista se depara com um cenário aterrorizante. A presença do pássaro na gaiola serve como uma advertência premonitória. A revelação da velha sobre o verdadeiro caráter do noivo e seus comparsas, que são assassinos e canibais, transforma o conto em um relato de sobrevivência. A ajuda da velha e a fuga bem-sucedida das duas mulheres adiciona uma camada de solidariedade feminina à narrativa.
No desfecho, a jovem usa sua experiência traumática para desmascarar o noivo durante o banquete de casamento. Apresentar o dedo decepado como prova é um momento de catarse e justiça, pois leva à captura e punição dos criminosos.
Os contos de fadas dos Irmãos Grimm frequentemente exploram a luta entre o bem e o mal, com lições morais sobre cautela, julgamento de caráter e a vitória final da inocência e justiça. „O Noivo Salteador“ faz isso envolto em uma atmosfera de suspense e terror, destacando o valor do instinto e da coragem em face do perigo.
O conto „O Noivo Salteador“ dos Irmãos Grimm é uma narrativa sombria e intrigante, que combina elementos de mistério, suspense e moralidade. Aqui estão alguns pontos de análise linguística e temática deste conto de fadas:
Estrutura Narrativa: O conto segue uma estrutura tradicional, começando com uma introdução que apresenta o cenário e os personagens, seguido pelo desenvolvimento do conflito, clímax e desfecho. A repetição, uma característica comum nos contos populares, é usada para criar suspense. A repetição do canto do pássaro e das ações do bando de salteadores reforça o terror da situação.
A Floresta: Tradicionalmente, a floresta é um símbolo de perigo e desconhecido. Neste conto, é o local onde o mal reside.
Cinza, Lentilhas e Ervilhas: As cinzas simbolizam o caminho traçado pelo noivo perigoso, enquanto as lentilhas e ervilhas representam a esperança e engenhosidade da jovem em encontrar o caminho de volta.
Personagem da Noiva: É descrita como perspicaz e intuitiva, confiando em sua intuição para desconfiar do pretendente. Representa a figura do herói inteligente em contos de fadas, alguém que confia em seus instintos para sobreviver.
Tema e Moralidade: O conto explora temas de confiança, perigo iminente e justiça. Há uma forte noção de moralidade, onde o mal é punido no final, o que é típico dos contos de fadas que procuram ensinar lições morais. A ideia de que a verdade e a justiça prevalecem é central ao desfecho.
Uso da Linguagem: O uso de linguagem vívida e detalhes gráficos (como o relato do ato dos salteadores) serve para intensificar o horror e a tensão. O diálogo desempenha um papel crucial na construção da tensão e desenvolvimento da trama, particularmente no banquete, onde a noiva usa a narrativa para expor a verdade.
Personagem da Velha: Atua como uma guia e salvadora, uma figura arquetípica em contos de fadas que ajuda o herói a escapar. Simboliza a bondade oculta no mundo sombrio da floresta.
O conto „O Noivo Salteador“ destaca-se por sua atmosfera sombria e um firme arco moral, onde a astúcia e a coragem da heroína são fundamentais para a resolução da história.
Informação para análise científica
Indicador | Valor |
---|---|
Número | KHM 40 |
Aarne-Thompson-Uther Índice | ATU Typ 955 |
Traduções | DE, EN, DA, ES, FR, PT, IT, JA, NL, PL, RU, TR, VI, ZH |
Índice de legibilidade de acordo com Björnsson | 35 |
Flesch-Reading-Ease Índice | 32.4 |
Flesch–Kincaid Grade-Level | 12 |
Gunning Fog Índice | 15.5 |
Coleman–Liau Índice | 10 |
SMOG Índice | 12 |
Índice de legibilidade automatizado | 6.3 |
Número de Caracteres | 6.374 |
Número de Letras | 4.932 |
Número de Sentenças | 80 |
Número de Palavras | 1.124 |
Média de Palavras por frase | 14,05 |
Palavras com mais de 6 letras | 236 |
percentagem de palavras longas | 21% |
Número de Sílabas | 2.128 |
Média de Sílabas por palavra | 1,89 |
Palavras com três sílabas | 279 |
Percentagem de palavras com três sílabas | 24.8% |