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O cão e o pardal
Grimm Märchen

O cão e o pardal - Contos de fadas dos Irmãos Grimm

Tempo de leitura para crianças: 11 min

Houve, uma vez, um cão de pastor que tinha um dono muito mau, que não lhe dava comida suficiente e o obrigava a passar fome. Certo dia, não podendo mais suportar esse tratamento, o cão resolveu ir embora, apesar de sentir muita tristeza. Pelo caminho, encontrou um pardal, que lhe disse:

– Por quê estás assim tão triste, meu irmão? – Estou com fome e não tenho o que comer, – respondeu o cão. – Se o mal é esse, vem comigo à cidade e eu te arranjarei o que comer, – disse o pardal. E assim foram os dois juntos para a cidade. Quando chegaram diante de um açougue, o pardal disse:

– Espera aqui bem quietinho, enquanto vou bicar um pedaço de carne. Voando para dentro do açougue, pousou sobre o balcão; depois de se certificar de que ninguém o estava observando, o pardal foi puxando com o bico um pedaço de carne para o beirai, até que caiu ao chão. O cão agarrou rapidamente e foi devorá-lo num canto. – Agora vamos para outro açougue, – disse o pardal, vou tirar outro pedaço de carne para que fiques satisfeito. Nesse açougue repetiu-se a mesma coisa e, quando o cão devorou também o segundo pedaço, o pardal lhe perguntou:

– Agora estás satisfeito, meu irmão? – Sim, – respondeu o cão, – de carne estou, mas ainda não provei pão. Foram até uma padaria e o pardal arrastou com o bico dois pães; como o companheiro lhe pedisse mais, levou-o a outra padaria, onde lhe derrubou mais dois pães. Quando acabou de comer, o pardal lhe perguntou:

– Estás satisfeito, meu irmão? – Sim, agora estou, – respondeu o cão. – Vamos dar um passeio fora da cidade. E saíram os dois pela estrada a fora. Mas o calor era intenso, não tinham ainda ido muito longe quando, chegando a uma curva, o cão disse:

– Estou cansado e gostaria de dormir um pouco. – Está bem, – disse o pardal, – dorme à vontade; enquanto isso ficarei pousado naquele galho. O cão deitou-se quase no meio da rua e forrou num sono profundo. Daí a pouco, chegava um carroceiro guiando uma carroça puxada por três cavalos A carroça ia carregada de barris do vinho. O pardal viu que o carroceiro não desviava do lugar onde estava o cão dormindo e ia passar-lhe por cima. Então gritou:

– Carroceiro, não faças isso, do contrário te reduzirei à miséria. Mas o carroceiro resmungou consigo mesmo: „Ora, não serás tu que me levarás à miséria!“ Estalou o chicote e dirigiu a carroça bem por cima do cão, matando-o. Então o pardal gritou:

– Mataste meu irmão! Isto vai te custar a carroça e os cavalos. – Oh, sim! – disse o carroceiro, – a carroça e os cavalos; que mal podes me fazer tu, pequeno tonto? E continuou chicoteando os cavalos, sem se preocupar. O pardal então penetrou sob a lona que cobria a carroça e se pôs a bicar o batoque de um dos barris até que a rolha saltou fora e o vinho começou a escorrer sem que o carroceiro percebesse. Finalmente, olhando por acaso para trás, viu que a carroça estava pingando; desceu e foi examinar os barris, encontrando um deles já vazio. – Ai de mim! – exclamou desolado, – agora sou um homem pobre. – Sim mas não o suficiente, – respondeu o pardal; e voou para a cabeça de um cavalo e com algumas bicadas arrancou-lhe um olho. Vendo aquilo, o carroceiro brandiu a foice e procurou matar o pardal, mas este voou em tempo e o golpe atingiu o cavalo que caiu morto, com a cabeça partida. – Ai de mim! – exclamou o carroceiro, – agora sou um homem pobre. – Sim, mas não o suficiente, – respondeu o pardal. E, enquanto o carroceiro ia seguindo o caminho com os dois cavalos, voltou a introduzir-se debaixo da lona e, à força de bicadas, arrancou a rolha do outro barril. O vinho começou a escorrer pela estrada a fora. Quando o carroceiro percebeu, gritou de novo:

– Ai de mim! Sou um pobre homem arruinado! – Sim, mas não o suficiente, – respondeu-lhe o pardal. E saltou para a cabeça do segundo cavalo, vazando- lhe os olhos. Cego de furor, o carroceiro brandiu novamente a foice procurando atingir o pardal, mas o golpe atingiu o cavalo, que caiu prostrado sem vida. – Ai de mim! – Como estou pobre! – gemia o carroceiro. – Sim, mas não o suficiente, – respondeu o pardal. Saltou para o terceiro cavalo e vazou-lhe os olhos. Tremendo de ódio, o carroceiro lançou a foice contra o pardal, mas também desta vez a foice acertou em cheio no cavalo, que teve a mesma sorte dos companheiros. – Ai de mim! Como estou pobre! – gritou o carroceiro. – Sim, mas não o suficiente, – disse o pássaro – agora eu te farei ficar ainda mais pobre em casa. – E saiu voando pelos ares. O carroceiro foi obrigado a abandonar a carroça na estrada e voltar para casa a pé, tremendo de ódio. – Que desgraça a minha! – disse à sua mulher. – O vinho foi todo derramado e os três cavalos estão mortos. Pobre de mim! A mulher, também, se lastimou:

– Ah, homem, que pássaro malvado entrou aqui em casa! Trouxe consigo todos os passarinhos da redondeza e, como um dilúvio, caíram sobre o nosso trigal, destruindo todas as espigas. O homem saiu para ver e deparou com milhares e milhares de pássaros devorando todo o trigo; no meio deles estava o terrível pardal. Então o carroceiro gritou:

– Ai de mim! Pobre, mais pobre que nunca! – Sim, mas não o suficiente! – Carroceiro, pagarás também com a vida, – respondeu-lhe o pardal e saiu voando. O carroceiro viu perdidos todos os seus bens. Foi para a cozinha, sentou-se atrás do fogão, resmungando e fervendo de ódio. Entretanto o pardal, pousando no peitoril da janela, do lado de fora, continuava dizendo:

– Carroceiro, vai custar-te a vida! Exasperado, o carroceiro pegou a foice e lançou-a violentamente contra o pardal, mas acertou nos vidros, espatifando-os sem que o pardal sofresse o menor dano. Saltitando todo brejeiro, o pardal entrou para dentro da sala e foi pousar em cima do fogão, dizendo:

– Carroceiro, vai custar-te a vida! Cego de raiva e de ódio, o homem pegou de novo a foice e saiu em perseguição do pardal, que saltava de um lugar para outro, sempre desviando os golpes do carroceiro. Este ia quebrando tudo o que encontrava na frente: o fogão, os bancos, a mesa, o espelho, até a parede, mas não conseguia atingir o pássaro. Por fim, depois de tanto correr e pular, conseguiu agarrar com a mão o pardal. Então a mulher perguntou-lhe:

– Queres que o mate? – Não, – disse o marido, – isso seria pouco para ele! Quero que morra de morte atroz; vou comê-lo vivo. Dizendo isso, abocanhou e engoliu o pardal inteiro. Porém o demoninho continuou esvoaçando dentro do estômago e, em dado momento, voltou até a boca para dizer:

– Carroceiro, vai custar-te a vida! O carroceiro passou depressa a foice à sua mulher e ordenou:

– Mata-me esse pássaro mesmo dentro da boca. A mulher agarrou a foice e deu um golge fortíssimo mas, errando o alvo, acertou em cheio na cabeça do marido prostrando-o sem vida. O pardal, então, saiu voando e sumiu ao longe, nunca mais aparecendo por aquelas bandas.

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NúmeroKHM 58
Aarne-Thompson-Uther ÍndiceATU Typ 248
TraduçõesDE, EN, DA, ES, PT, FI, HU, IT, JA, NL, PL, RU, TR, ZH
Índice de legibilidade de acordo com Björnsson31.7
Flesch-Reading-Ease Índice37.6
Flesch–Kincaid Grade-Level11
Gunning Fog Índice14.3
Coleman–Liau Índice9.7
SMOG Índice12
Índice de legibilidade automatizado5
Número de Caracteres6.835
Número de Letras5.248
Número de Sentenças100
Número de Palavras1.211
Média de Palavras por frase12,11
Palavras com mais de 6 letras237
percentagem de palavras longas19.6%
Número de Sílabas2.246
Média de Sílabas por palavra1,85
Palavras com três sílabas287
Percentagem de palavras com três sílabas23.7%
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